Pablo Pinheiro não apenas fotografou vaqueiros no Seridó. Ele os escutou. Foi essa escuta, construída ao longo de mais de uma década na região Seridó, do Rio Grande do Norte, que atravessou o oceano e chegou à Livraria da Travessa de Lisboa, no último dia 27 de junho. Ali, o fotógrafo e antropólogo lançou a edição bilíngue (português-inglês) do livro Vaqueiro de Gibão, publicado pela editora “Deu na Telha”, como parte de uma série de eventos de circulação internacional da obra. No lançamento, Pablo não levou apenas um livro com imagens bem compostas e papel de alta gramatura. Levou o tempo. O tempo de ouvir. De demorar-se nos silêncios.

De compartilhar, antes de registrar. Antes de Portugal, o livro já passou pela França e é resultado de uma caminhada de mais de uma década na região que é a fronteira viva entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. Desde 2010, Pablo tem convivido com vaqueiros como quem pede licença para entrar. E, ao invés de pressa, levou vínculo. Em vez de legenda, deixou voz. O livro nasceu da necessidade de não restringir esse trabalho — fruto de uma pesquisa de mestrado — aos limites do consumo acadêmico.

Era preciso traduzi-lo para um público maior, mais amplo, mais sensível ao gesto. A decisão de iniciar a circulação pela Europa veio após a Biblioteca Nacional da França adquirir quatro fotografias do acervo de Pablo, dentro da programação comemorativa do ano Brasil-França (2025). A curadoria do acervo fotográfico o convidou para um colóquio, e esse convite foi o empurrão necessário para que o livro ganhasse corpo e cruzasse o oceano.

Portugal, embora não tenha sido o ponto de partida oficial, sempre esteve no mapa afetivo do autor: “Sempre pensei em começar aqui (Lisboa). Mas a França mudou o fluxo.” Na livraria Travessa, em Lisboa, Pablo contou que o trabalho não era só de imagens, “Era o que aquelas imagens diziam sobre um lugar, sobre uma vida, sobre aquelas pessoas.”