“Sabia que era uma menina”: a trajetória da primeira mulher trans potiguar operada pelo SUS

Wanja Celine da Silva tem 62 anos e mais de três décadas de atuação no movimento LGBTQIAPN+ no Brasil. Pedagoga, técnica em Turismo e Hotelaria e coordenadora-geral da ONG Attransparência RN, ela também ocupa uma cadeira no Conselho Estadual LGBT+ do Rio Grande do Norte. Sua história é marcada por coragem, pioneirismo e uma luta incansável por dignidade. Wanja foi a primeira mulher trans potiguar a realizar a cirurgia de afirmação de gênero pelo SUS.

“Desde os cinco anos eu sabia que era uma menina”, relembra. Gêmea de um irmão com quem não se identificava, Wanja enfrentou as imposições da infância e da juventude até se reconhecer como mulher trans já na vida adulta, aos vinte anos. “Os desafios foram muitos, mas não tão grandes a ponto de não serem superados”, afirma.

Após uma longa espera e dez anos de acompanhamento psicológico e psiquiátrico no Hospital das Clínicas de São Paulo, ela finalmente conseguiu realizar a cirurgia. “As terapias em grupo foram um marco. A gente dividia histórias de dor e superação. Foi uma jornada que me deu força e inspirou outras mulheres a acreditarem que também podiam realizar esse sonho pelo SUS.”

Mas se São Paulo lhe abriu as portas para a transição com mais estrutura, a realidade no Nordeste, segundo ela, ainda é muito desigual. “Aqui, a fila praticamente não existe. Temos os ambulatórios TTs, que são importantes, mas ainda deixam muito a desejar, principalmente na hormonização.”

Desde que retornou a Natal, em 2017, ela se filiou à Attransparência RN e passou a militar de forma ainda mais incisiva pelos direitos da população trans. “Seguimos enfrentando muitos desafios, especialmente pela falta de patrocínio. Ainda assim, realizamos ações importantes como a Jornada da Visibilidade em janeiro e a Cozinha Solidária, em parceria com o MST, que distribui refeições para a nossa comunidade.”

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, mais pessoas LGBTQIA+ têm alcançado a terceira idade, mas essa conquista ainda carrega um peso invisível.

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